Você vai ser submetido a uma cirurgia, e seu cirurgião te pediu um risco cirúrgico.
A maior parte das pessoas já viveu essa situação. Então agendou uma consulta com o cardiologista, respondeu a algumas perguntas, mostrou alguns exames, e recebeu um relatório, que foi apresentado para o cirurgião. Mas você entendeu qual a necessidade dessa avaliação? Qual a importância dela para garantir uma maior segurança naquela cirurgia? Ou pensou que era apenas uma burocracia exigida?
Vamos entender então para que serve o risco cirúrgico – ou avaliação cardíaca pré-operatória, e como ele é realizado?
Quem realiza o risco cirúrgico?
O risco cirúrgico engloba avaliação de vários aspectos de saúde do paciente. Então, por que ele é realizado por um cardiologista?
Primeiramente, porque a maior parte dos cardiologistas são também especialistas em clínica médica e, portanto, preparados para avaliar a saúde do paciente como um todo. Além disso, durante a formação do cardiologista, ele é treinado para realizar essa avaliação pré-operatória, o que não ocorre na formação de outras especialidades, de forma geral.
Em segundo lugar, porque as complicações cardiovasculares estão entre as complicações potencialmente mais graves após uma cirurgia – infartos, arritmias, insuficiência cardíaca e tromboembolismo porem ocorrer, e podem ser causa de internação prolongada e morte. Dessa forma, o cardiologista é o profissional mais indicado para avaliar o risco e evitar a ocorrência dessas situações.
A Dra. Maíra Ibrahim é uma cardiologista com formação sólida e especializada em realizar essa avaliação pré-operatória.
Está planejando realizar uma cirurgia? Agende já uma consulta de risco cirúrgico, visando a maior segurança e melhores resultados no seu procedimento!
O que é o risco cirúrgico?
O risco cirúrgico, ou avaliação cardiológica pré-operatória, é uma avaliação médica que visa determinar a probabilidade de complicações durante e/ou após uma cirurgia, e definir medidas para reduzir o risco dessas complicações. Em outras palavras, retomando o conceito que uma cirurgia é uma agressão para o nosso corpo, o cardiologista vai definir se o paciente tem condições de passar por essa situação de estresse, e vai adotar condutas para possibilitar que isso ocorra com a maior segurança possível.
Essa avaliação envolve vários componentes:
– Avaliação do estado de saúde do paciente: o cardiologista vai indagar sobre a presença de sintomas cardiovasculares ou gerais atuais, vai analisar a presença de comorbidades e doenças pré-existentes e como está o controle dessas condições. Vai avaliar a capacidade funcional e condicionamento físico, ou seja, qual a tolerância do paciente para enfrentar esforços. Vai realizar um exame físico e verificar se existe alguma alteração que indiquem alguma doença descompensada.
– Avaliação do histórico médico: o cardiologista vai considerar o histórico de cirurgias realizadas previamente, se ocorreu alguma complicação nesses procedimentos anteriores. Vai perguntar sobre as medicações que o doente usa. Vai questionar sobre a presença de alergias conhecidas a alguma medicação.
– Avaliação de exames complementares: o cardiologista vai determinar aqui, conforme o porte do procedimento e a condição de saúde do paciente, se é necessário realizar algum exame complementar. Muitas vezes, é indicado que o paciente apresente alguns exames antes do procedimento, como exames laboratoriais – de sangue e urina; eletrocardiograma e outros exames cardiológicos; radiografia do tórax; entre outros.
– Encaminhamento para outros especialistas: a depender da cirurgia a ser realizada e do paciente em questão, pode ser preciso avaliação de outros especialistas, como nefrologistas, pneumologistas etc.
– Estratificação do risco: após todo esse processo, o cardiologista vai se utilizar de calculadoras e escores médicos que conseguem estimar o risco de complicações pós-operatórias. É importante que o paciente e o cirurgião estejam cientes dessa estimativa de risco. Alguns dos escores de risco mais utilizados são o ASA (American Society of Anesthesiologists, Escore de Lee (índice Cardíaco revisado de Lee) e CVRI (Índice de risco cardiovascular).
– Plano de ação e orientações: tendo o resultado dessas avaliações em mãos, o cardiologista vai conseguir, então, propor um plano de ação para reduzir o risco de complicações. Por exemplo:
- Vai definir tratamentos adicionais para condições de saúde que estejam descompensadas. Se necessário, recomendar adiar a cirurgia até que o paciente esteja bem, caso entenda que o risco naquele momento seja muito alto e maior que o benefício da realização do procedimento.
- Vai orientar sobre os medicamentos em uso pelo paciente, sobre quais precisam ser suspensos antes de um procedimento e quais podem ser mantidos.
- Vai orientar cuidados pré e pós-operatórios, como: necessidade do uso de antibiótico para evitar infecções; uso de anticoagulante para evitar tromboses; necessidade de transfusão de sangue e seus componentes antes do procedimento; necessidade de cuidados imediatos em ambiente de CTI após a cirurgia em cenários de maior risco.
Qual a diferença entre risco cirúrgico e risco anestésico?
Risco cirúrgico é como é conhecida popularmente a avaliação cardiológica pré-operatória. Tem como foco principal avaliar o estado de saúde do coração e a capacidade do paciente de suportar o estresse cirúrgico, conforme descrito nos tópicos anteriores.
Já o risco anestésico é uma avaliação distinta e complementar da avaliação cardiológica. Visa avaliar a capacidade do paciente em tolerar a anestesia, qual a melhor opção de anestesia para aquele paciente e procedimento (local, regional ou geral), quais as melhores medicações para serem usadas naquele caso, qual o tempo necessário de jejum, e quais as potenciais complicações relacionadas ao uso de agentes anestésicos.
Muitos pacientes manifestam medo da anestesia. É importante saber que alergia a anestesia não é algo comum, mas pode ocorrer. Estima-se que reações alérgicas graves, como a anafilaxia, ocorram em aproximadamente 1 a cada 10.000 a 20.000 anestesias gerais.
Por que uma cirurgia pode ter complicações?
Imagine que uma cirurgia é uma agressão ao nosso corpo – ainda que seja algo planejado. Em um procedimento cirúrgico, nosso corpo sofrerá cortes, sangramentos, desidratação, perda de sais minerais, estimulo de dor, consumo de energia, alteração de temperatura corporal. Ainda que em um ambiente controlado, nosso corpo enfrenta algo semelhante ao que ocorreria em um trauma, um machucado por um acidente ou uma infecção grave.
Diante dessa agressão, nosso corpo vai apresentar várias reações, com objetivo de controlar esse trauma, para se restabelecer e manter a nossa vida. Nós chamamos esse conjunto de reações de REMIT – Resposta Endócrino, Metabólica e Imunológica ao Trauma.
A resposta do nosso organismo ao trauma envolve:
- Ativação do nosso sistema nervoso, com liberação de adrenalina e noradrenalina, que vai aumentar nossa frequência cardíaca (número de vezes que o coração bate em um minuto), gerar uma vasoconstricção (fazer com que nossos vasos fiquem mais finos), e vai aumentar nossa pressão arterial.
- Ativação do nosso sistema endócrino, com liberação de hormônios do estresse, como o cortisol e agentes inflamatórios, com objetivo de aumentar o metabolismo, quebrar proteínas e gorduras, aumentar a produção de glicose, para liberar mais energia para o corpo.
- Ativação do nosso sistema inflamatório, com liberação de citocinas inflamatórias, que vão permitir que cheguem no local da ferida cirúrgica mais células de defesa e de coagulação, para que haja a cicatrização.
- Ativação do sistema respiratório, com o aumento da nossa frequência respiratória (número de vezes que respiramos em um minuto), para melhorar a oxigenação no nosso corpo e nos tecidos e órgãos envolvidos na cirurgia.
Todas essas reações são esperadas, e ocorrem em conjunto com objetivo de promover a cura após uma cirurgia. Porém, em alguns casos, essa resposta pode ter consequências ruins para o nosso organismo, se ocorrer de forma excessiva ou prolongada, especialmente em um paciente que não estava preparado para aquilo. Nesse cenário, pode acontecer uma sobrecarga em vários sistemas do corpo, resultando em complicações cirúrgicas, sequelas, uma recuperação prolongada ou, em alguns casos, até morte.
Que complicações que podem ocorrer em uma cirurgia?
Existem diversas possíveis complicações cirúrgicas, que vão variar dependendo da saúde do paciente e do tipo de procedimento a que ele vai ser submetido. São exemplos de complicações após uma cirurgia:
- Complicações locais: Infecção da ferida operatória, fístula, deiscência de anastomose
- Complicações respiratórias: atelectasia, pneumonia
- Sangramentos: hemorragias, formação de hematomas
- Eventos tromboembólicos: Trombose venosa e embolia pulmonar
- Complicações cardiovasculares: infarto, arritmias, AVC, insuficiência cardíaca
- Reações Adversas à anestesia
- Complicações Gastrointestinais: vômitos, constipação intestinal ou íleo paralítico
Essas complicações podem variar em gravidade e frequência, de forma que não existe consenso sobre sua real incidência. É estimado que ocorram entre cerca de 6% a 45% de complicações nos primeiros 30 dias após a cirurgia, acarretando uma taxa de mortalidade em torno de 1% a 6% dos casos.
Em dados do nosso país, estima-se que no Brasil sejam realizadas entre 6 e 8 milhões de cirurgias em um ano, considerando os sistemas de saúde público e privado. Imagine então quantos pacientes podem ter sofrido algum tipo de complicação cirúrgica, de menor ou maior gravidade.
Entre os fatores de risco que aumentam a chance de uma complicação após o procedimento cirúrgico, estão:
- Tipo de cirurgia
Envolve o porte da cirurgia, a sua duração, a urgência em que é realizada. Por exemplo, é fácil entender que uma cirurgia que envolve órgãos abdominais ou torácicos tem maior risco que um procedimento para retirar uma pequena lesão de pele ou um procedimento oftalmológico. Ainda, uma cirurgia realizada em caráter de urgência é mais arriscada que uma cirurgia eletiva, planejada cuidadosamente.
- Características do paciente
Diz respeito às condições basais e aspectos de saúde do paciente. Por exemplo, pacientes com idade avançada tendem a complicar mais após procedimentos cirúrgicos. A obesidade está relacionada ao aumento de complicações infecciosas e tromboembólicas. E ainda, a presença de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e pulmonares, aumentam o risco de diversas complicações pós-operatórias, especialmente complicações cardiovasculares.
- Condições médico-hospitalares
Cirurgiões experientes, trabalhando em um ambiente cirúrgico asséptico, com materiais e profissionais envolvidos de qualidade, aliados a um cuidado pós-operatório bem feito ajudam a reduzir as taxas de complicações.
Por isso, um planejamento pré-operatório detalhado, com uma avaliação cardíaca e anestésica bem feitas, associado a uma boa comunicação entre o paciente e as equipes médicas envolvidas são fundamentais para reduzir esses riscos.
Saiba mais:
https://academic.oup.com/eurheartj/article/43/39/3826/6675076?login=false#416169266
Leia também:
https://dramairaibrahim.com.br/quando-procurar-um-cardiologista
Tenho 44 anos sinto muita dormência e formigamento nas pernas pés mão muita fala de ar e dor tipo fincadas no peito fortíssima?
Ola Luciely! Existem muitas causas para dor no peito e falta de ar – que vão de coisas mais simples, como uma dor muscular, até diagnósticos mais graves, como um infarto! É muito importante que um médico te avalie, converse bem sobre os sintomas e te examine, e a partir daí defina se precisa fazer algum exame para definir a causa e o tratamento!