Dra. Maira Ibrahim – Cardiologia

Você já ouviu falar que excesso de gordura no sangue pode levar a um infarto ou um AVC? Já recebeu um exame de sangue mostrando triglicérides e/ou o colesterol altos e não sabe bem o que fazer com isso? Se você está preocupado com o colesterol alto ou já ouviu falar em dislipidemia, este texto é para você. Vamos juntos entender o que é, como afeta sua saúde e o que fazer para cuidar do seu coração.  

O Que é Dislipidemia?   

Lipídios são compostos orgânicos que incluem gorduras e óleos. A dislipidemia é um distúrbio que altera os níveis de gordura no sangue.

Os lipídios no organismo humano desempenham funções cruciais, incluindo a formação de membranas celulares, armazenamento de energia e sinalização celular.

Os principais tipos de lipídios incluem:

  • Triglicerídeos: São a principal forma de armazenamento de energia no corpo, encontrados principalmente no tecido adiposo.
  • Fosfolipídios: Componentes essenciais das membranas celulares, formam a bicamada lipídica que protege e organiza as células.
  • Esteróis: Incluem o colesterol, que é um componente estrutural das membranas celulares e precursor de hormônios esteroides, ácidos biliares e vitamina D.
  • Ácidos graxos livres: Participam na sinalização celular e podem ser oxidados para gerar energia.
  • Lipoproteínas: Complexos de lipídios e proteínas que transportam lipídios no sangue, incluindo LDL, HDL, VLDL e quilomícrons. 

 Vamos conversar um pouco sobre os principais lipídios envolvidos na saúde do coração!

Qual médico trata a dislipidemia?

Um bom cardiologista desempenha um papel crucial no manejo do perfil lipídico e na redução do risco cardiovascular dos pacientes. O cardiologista começa avaliando o perfil lipídico através de exames de sangue, buscando identificar pacientes em risco.

 Com base nos resultados, o médico pode recomendar mudanças no estilo de vida, além de indicar o uso de medicamentos, quando necessários para ajudar a controlar os níveis de colesterol e reduzir o risco de doenças cardíacas. Além disso, o cardiologista deve monitorar continuamente o progresso do paciente, ajustando o tratamento conforme necessário e orientando sobre a importância de hábitos saudáveis a longo prazo. Dessa forma, um manejo eficaz do perfil lipídico pode significar uma significativa diminuição do risco de eventos cardiovasculares, contribuindo para a saúde e bem-estar geral do paciente. 

Tipos de lipídios

Colesterol

O colesterol é uma substância gordurosa essencial para o funcionamento do corpo. Ele está presente em todas as células e é usado para:  

  • Produzir hormônios (como estrogênio e testosterona).  
  • Sintetizar vitamina D.  
  • Formar a bile, que ajuda na digestão de gorduras.  

O colesterol tem duas origens principais:  

  1. Produção Interna (70% a 80%):  O fígado produz a maior parte do colesterol que o corpo precisa.  
  2. Dieta (20% a 30%):  Alimentos de origem animal, como carnes, ovos e laticínios, contêm colesterol.  

No nosso corpo, o colesterol é transportado no sangue por lipoproteínas, que são partículas que carregam gordura. As principais são:  

>> LDL (Low-Density Lipoprotein, ou lipoproteína de baixa densidade):

  •    Conhecido como “colesterol ruim”.  
  •    Transporta colesterol do fígado para as células.  
  •    Em excesso, pode se acumular nos vasos sanguíneos que chamamos de artérias, formando placas de gordura.  

>> HDL (High-Density Lipoprotein, ou lipoproteína de alta densidade):  

  •    Conhecido como “colesterol bom”.  
  •    Remove o colesterol das artérias e o leva de volta ao fígado para ser eliminado.  

>> VLDL (Very Low-Density Lipoprotein, ou lipoproteína de densidade muito baixa):  

  •    Transporta triglicerídeos e colesterol.  
  •    Pode contribuir para a formação de placas.  

 >> Quais as causas do colesterol alterado?

As causas de elevação do colesterol LDL (colesterol ruim) e de redução do colesterol HDL (colesterol bom) são multifatoriais e frequentemente inter-relacionadas.

  1. Genéticas: Distúrbios como a hipercolesterolemia familiar, que é causada por mutações nos genes que codificam o receptor de LDL, resultando em depuração inadequada de LDL do plasma. Além disso, certas condições genéticas podem afetar a produção ou a função do HDL.
  2. Dieta e Estilo de Vida: Dietas ricas em gorduras saturadas e trans, obesidade e sedentarismo contribuem para níveis elevados de LDL. De forma similar, fatores como sedentarismo, tabagismo e dietas pobres em gorduras saudáveis podem reduzir os níveis de HDL.
  3. Condições Metabólicas: A resistência à insulina e a síndrome metabólica estão associadas a um aumento na produção de partículas de LDL pequenas e densas, que são mais aterogênicas. Ainda, a resistência à insulina e a obesidade estão frequentemente associadas a níveis baixos de HDL.

>> Qual o risco do colesterol alterado para a saúde?

A hipercolesterolemia, nome do aumento dos níveis de colesterol no sangue, é um fator de risco bem estabelecido para doenças cardiovasculares.

 O colesterol LDL (colesterol ruim) elevado contribui para a formação de placas ateroscleróticas nas artérias, levando à redução do fluxo sanguíneo e ao aumento do risco de eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (ou derrame, como é popularmente conhecido).

Colesterol e auemnto do risco cardiovascular

Ainda, níveis baixos de HDL (colesterol bom) estão associados a um aumento do risco cardiovascular. O HDL desempenha um papel crucial no transporte reverso de colesterol, removendo o colesterol das artérias e transportando-o de volta ao fígado para eliminação do corpo, o que contribui para a proteção contra doenças cardiovasculares. No entanto, a relação entre HDL e risco cardiovascular é complexa e não totalmente compreendida. Estudos recentes sugerem que o HDL pode não ser um fator causal direto na redução do risco de doenças cardiovasculares, mas sim um marcador de risco.

Triglicerídeos:  

Os triglicerídeos são um tipo de gordura encontrada no sangue. Eles são a principal forma de armazenamento de energia no corpo: quando você consome mais calorias do que gasta, o excesso é convertido em triglicerídeos e armazenado nas células de gordura.  

>> Quais as causas do triglicérides alto?

A hipertrigliceridemia é causada por diversos fatores, entre eles:

1. Causas genéticas: Distúrbios como a hipertrigliceridemia familiar e a deficiência de lipoproteína lipase (LPL) podem levar a níveis elevados de triglicerídeos.

2. Estilo de Vida:

  • Dieta Desequilibrada:  Consumo excessivo de açúcares, carboidratos refinados e gorduras saturadas.  
  • Ingestão frequente de álcool.  
  •  Sedentarismo:  A falta de atividade física reduz a queima de gordura e contribui para o acúmulo de triglicerídeos.  

3. Condições Metabólicas:

  • Obesidade: O excesso de peso, especialmente a gordura abdominal, está diretamente ligado ao aumento dos triglicerídeos.  
  • Síndrome Metabólica: Triglicerídeos altos são um dos critérios para diagnosticar a síndrome metabólica, que inclui também hipertensão, glicemia elevada e baixos níveis de HDL (colesterol bom).  
  •  Diabetes Mal Controlado: Pacientes com diabetes tipo 2 frequentemente apresentam triglicerídeos elevados devido à resistência à insulina.  
  • Medicamentos: Certos medicamentos, como estrogênios orais, betabloqueadores e diuréticos tiazídicos, podem aumentar os níveis de triglicerídeos.

>> Qual o risco do triglicérides alto para a saúde?

Estudos indicam que os triglicerídeos elevados estão associados a um risco aumentado de doenças cardiovasculares.  No entanto, o papel dos triglicerídeos pode ser mais como um marcador de risco do que um fator causal direto. Ou seja, ainda não está claro se a hipertrigliceridemia, ou níveis elevados de triglicérides no sangue, atuam diretamente aumentando o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, ou se apenas sinaliza que aquele paciente apresenta um estilo de vida que aumenta o risco de desenvolver essas doenças.  

Ainda que não tenhamos certeza que o triglicérides alto aumente o risco cardiovascular, sabemos que pode gerar outros problemas de saúde, entre eles:

  • Pancreatite Aguda: Níveis muito altos (acima de 500 mg/dL) podem causar inflamação no pâncreas, uma condição grave e potencialmente fatal.  
  • Esteatose Hepática (Fígado Gorduroso): O excesso de triglicerídeos pode se acumular no fígado, causando inflamação e danos ao órgão. A esteatose hepática pode evoluir para cirrose, quando não tratada adequadamente.  

Como Saber Se Tenho Dislipidemia?

A avaliação do perfil lipídico é uma ferramenta essencial na identificação e manejo do risco cardiovascular, especialmente considerando a hipercolesterolemia como um fator de risco significativo para a aterosclerose e doenças cardiovasculares.

As diretrizes atuais fornecem recomendações específicas sobre quando iniciar e com que frequência realizar esses testes.

1. Adultos :

  • Primeira Dosagem: Todos os adultos devem realizar um perfil lipídico completo (colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos) a partir dos 20 anos.  
  • Repetição:  

  – Se os resultados forem normais, repetir a cada 5 anos.  

  – Se houver alterações, o intervalo deve ser menor, conforme orientação médica.  

 2. Pacientes com Fatores de Risco:  

  • Histórico Familiar:  Se houver casos de doenças cardiovasculares precoces (homens antes dos 55 anos e mulheres antes dos 65 anos), a dosagem deve começar mais cedo, a partir dos 10 anos.  
  • Para pacientes com diabetes, a American Diabetes Association sugere que um perfil lipídico seja obtido no momento do diagnóstico e anualmente, ou mais frequentemente se indicado.
  • Outros Fatores de Risco:  Obesidade, hipertensão, tabagismo e sedentarismo exigem monitoramento mais frequente.  

 3. Crianças e Adolescentes:

  • Em crianças e adolescentes, recomenda-se a triagem universal entre 9 e 11 anos e novamente entre 17 e 21 anos. Isso é importante porque o processo aterosclerótico pode acelerar nessa faixa etária. Além disso, crianças a partir de 2 anos devem ser triadas se houver histórico familiar de hipercolesterolemia ou doença cardiovascular prematura
  • Em crianças com diabetes tipo 1, o perfil lipídico deve ser realizado logo após o diagnóstico, preferencialmente após a melhora da glicemia, e ubsequentemente a cada 3 anos se os níveis de LDL estiverem dentro dos limites aceitáveis.

 Essas diretrizes destacam a importância de uma abordagem personalizada, considerando fatores de risco individuais e histórico familiar, para determinar a frequência e a necessidade de testes de perfil lipídico. A dislipidemia não apresenta sintomas visíveis. Por isso, é fundamental que um cardiologista avalie caso a caso, para indicar a necessidade de realizar exames de sangue periódicos para rastreio dessa doença.

Quais são os valores de referência para o colesterol?

No caso do HDL, para adultos, valores desejáveis são aqueles acima de 40mg/dL.

Já em relação ao LDL, a resposta é mais complicada: Depende! Os valores considerados aceitáveis para o LDL vão variar conforme o risco cardiovascular de cada paciente.

O risco cardiovascular refere-se à probabilidade de um indivíduo desenvolver doenças cardiovasculares ao longo de um determinado período, geralmente 10 anos. Este risco é avaliado com base em uma combinação de fatores de risco clínicos, laboratoriais e de estilo de vida. Os fatores de risco tradicionais incluem idade, hipertensão, dislipidemia, tabagismo, diabetes mellitus e histórico familiar de doença cardiovascular prematura.

Durante a consulta médica, seu cardiologista pode usar calculadoras clínicas e escores para estimar o seu risco cardiovascular. A título de curiosidade, entre esses escores, estão: ASCVD – Atherosclerotic Cardiovascular Disease Risk Algorithm, Framingham Risk Score, SCORE – Systematic Coronary Risk Evaluation e PCE – Pooled Cohort Equations.

A estratificação do risco cardiovascular é crucial para guiar as medidas de prevenção de doenças, e para definir nossos alvos terapêuticos.

Os alvos do colesterol LDL devem ser, então, personalizados de acordo com o risco cardiovascular do paciente.

  • Pacientes de Baixo Risco cardiovascular:

– Aqueles com menos de 5% de chance de evoluir com com uma doença cardiovascular, como infarto do miocárdio ou AVC, nos próximos 10 anos.

– Objetivo de LDL: Abaixo de 130 mg/dL.  

  • Pacientes de Risco Intermediário

– Aqueles com risco entre 7,5% e 20% de evoluir com uma doença cardiovascular nos próximos 10 anos.

– Objetivo de LDL: Abaixo de 100 mg/dL.

  • Pacientes de Alto Risco

– Aqueles com risco maior que 20% de evoluir com uma doença cardiovascular nos próximos 10 anos.

– Objetivo de LDL: Abaixo de 70 mg/dL.

  • Pacientes com Doença Cardiovascular Estabelecida:  

– Aqueles que já sofreram uma doença cardiovascular previamente.

– Objetivo de LDL: Abaixo de 50 mg/dL.  

Quais são os valores de referência para o triglicérides?

  •   Normal: Abaixo de 150 mg/dL.  
  •   Limítrofe: 150 a 199 mg/dL.  
  •   Alto: 200 a 499 mg/dL.  
  •  Muito Alto: Acima de 500 mg/dL.  

Como tratar a Dislipidemia?

Como tratar o triglicérides alto:

As diretrizes recomendam que o tratamento dos triglicerídeos elevados comece com mudanças no estilo de vida, como dieta e exercício físico, especialmente para níveis entre 150 e 499 mg/Dl. Para hipertrigliceridemia severa (≥500 mg/dL), é razoável iniciar a terapia medicamentosa para reduzir o risco de pancreatite aguda.

1.  Mudanças no Estilo de Vida:   

A base do tratamento para triglicerídeos altos é a mudança de hábitos:  

  • Alimentação Saudável:   

  – Reduzir o consumo de açúcares e carboidratos refinados.  

  – Evitar gorduras saturadas e trans.  

  – Incluir gorduras boas (azeite, abacate, peixes).  

  – Aumentar o consumo de fibras (frutas, vegetais, grãos integrais).  

  • Exercícios Físicos:  

  – Praticar atividades aeróbicas (caminhada, natação, ciclismo) pelo menos 3 vezes por semana.  

  • Controle do Peso:   

  – Nos pacientes com sobrepeso ou obesidade, perder peso pode reduzir significativamente os níveis de triglicerídeos.  

  • Redução do Consumo de Álcool:  

  – O álcool é um dos principais responsáveis pelo aumento dos triglicerídeos. O consumo abusivo de álcool deve ser desestimulado, como parte do tratamento para hipertrigliceridemia.   

2. Medicamentos:   

Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes, medicamentos podem ser indicados:  

  • Fibratos:  

 – Redução de 20% a 50% nos triglicerídeos.  

 – Aumento de 10% a 20% no HDL.  

Estudos demonstram que a terapia com fibrato pode reduzir significativamente os níveis de triglicerídeos, com uma redução média de até 54,5% em pacientes com níveis basais de triglicerídeos entre 500 e 1500 mg/dL. No entanto, é importante monitorar a resposta individual ao tratamento, pois a eficácia pode variar dependendo de fatores como o sexo, a presença de diabetes e o uso concomitante de estatinas (medicamentos para o colesterol alto).

Em relação a efeitos colaterais, os fibratos podem causar dores musculares em cerca de 5% dos pacientes, sintomas digestivos em 3 a 5% deles e cálculos na vesícula biliares em 1%dos pacientes.  

  • Ômega-3 (Ácidos Graxos):  

  – Reduzem os triglicerídeos em 20% a 30%.  

  – Podem ser usados em combinação com outras terapias.  

Os ácidos graxos ômega-3, particularmente o ácido eicosapentaenoico (EPA), têm demonstrado benefícios na redução do risco cardiovascular, especialmente em pacientes com hipertrigliceridemia persistente. O estudo REDUCE-IT destacou que o uso de icosapent ethyl, uma forma purificada de EPA, resultou em uma redução de 25% nos eventos cardiovasculares adversos maiores em pacientes de alto risco que já estavam em tratamento com estatinas. Este benefício é atribuído a múltiplos mecanismos, incluindo a redução dos níveis de triglicerídeos, efeitos anti-inflamatórios, e a estabilização de placas ateroscleróticas.

 As indicações para o uso de ômega-3, especialmente em pacientes com hipertrigliceridemia, incluem a redução dos níveis de triglicerídeos em pacientes com triglicerídeos muito elevados (≥500 mg/dL) e a redução do risco de eventos cardiovasculares em pacientes com triglicerídeos moderadamente elevados (135-499 mg/dL) que já estão em tratamento com estatinas  A dose recomendada para alcançar esses efeitos é de 4 g/dia de EPA, que tem sido aprovada pela FDA para o tratamento de triglicerídeos muito elevados nos Estados Unidos.

 É importante notar que os benefícios cardiovasculares observados com o EPA não devem ser extrapolados para outras formulações de ômega-3 que contenham DHA, pois os estudos com essas formulações não demonstraram reduções significativas nos eventos cardiovasculares. Assim, a escolha do tipo de ômega-3 e a dose são cruciais para alcançar os benefícios desejados na redução do risco cardiovascular.

Como tratar o colesterol HDL baixo:

Mudanças no estilo de vida, como aumento da atividade física e melhoria da qualidade da dieta, podem melhorar o perfil lipídico, incluindo o aumento nos níveis do HDL.

Em relação ao uso de medicamentos para aumentar os níveis de HDL, a literatura médica indica que, embora terapias como niacina e  fibratos possam aumentar os níveis de HDL, elas não demonstraram reduzir eventos cardiovasculares de forma consistente em ensaios clínicos.

Além disso, como falamos anteriormente, os estudos sugerem que o HDL pode não ser um fator biológico direto que impacta o risco de doenças cardiovasculares, mas sim um marcador de risco. Portanto, atualmente, não há indicação robusta para o uso de medicamentos com o objetivo específico de aumentar o HDL como estratégia para reduzir o risco cardiovascular A ênfase continua sendo a modificação do estilo de vida e o controle de outros fatores de risco, como LDL elevado, para a prevenção de doenças cardiovasculares.

Como tratar o colesterol LDL alto:

As mudanças no estilo de vida desempenham um papel crucial no tratamento da hipercolesterolemia, sendo frequentemente recomendadas como a primeira linha de intervenção antes da introdução de terapias farmacológicas. Embora as mudanças no estilo de vida possam ter efeitos modestos na redução dos níveis de colesterol, elas são fundamentais para a prevenção primária e secundária de eventos cardiovasculares e devem ser parte integrante de qualquer plano de manejo da hipercolesterolemia.  

Por exemplo, a adesão a dietas com baixo teor de ácidos graxos saturados pode reduzir os níveis de LDL em até 11%. No entanto, em casos de hipercolesterolemia severa ou quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para atingir as metas de LDL, a terapia com estatinas e outros agentes farmacológicos vai ser necessária.

1. Mudanças no Estilo de Vida:  

  • Exercícios: Praticar atividades físicas regularmente (pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica de moderada intensidade por semana).   
  • Dieta: Reduzir gorduras saturadas, açúcares e alimentos processados. Aumentar o consumo de fibras, frutas, vegetais e gorduras boas.

Vamos aproveitar esse momento para falar com pouco sobre o que é uma alimentação saudável no contexto de dislipidemia. Aqui, o objetivo não é prescrever uma dieta, mas orientar hábitos alimentares saudáveis. Uma dieta personalizada deve ser indicada por profissionais de saúde especialistas nisso, e individualizada para cada paciente.

Alimentos indicados:

a. Gorduras Boas 

. Fontes: Azeite de oliva, abacate, castanhas, nozes, sementes (chia, linhaça).  

. Benefícios: Aumentam o HDL e reduzem o LDL.  

 b. Fibras Solúveis  

. Fontes: Aveia, feijão, lentilha, maçã, pera, cenoura.  

. Benefícios: Reduzem a absorção de colesterol no intestino.  

 c. Peixes Ricos em Ômega-3  

. Fontes: Salmão, sardinha, atum, truta.  

. Benefícios: Diminuem os triglicerídeos e têm ação anti-inflamatória.  

 d. Frutas e Vegetais  

. Fontes: Todas as frutas e vegetais, especialmente os coloridos (espinafre, brócolis, morango, uva).  

. Benefícios: Ricos em antioxidantes, protegem as artérias e reduzem o colesterol.  

e. Grãos Integrais  

. Fontes: Arroz integral, quinoa, pão integral, cevada.  

. Benefícios: Melhoram o controle glicêmico e reduzem o LDL.  

 

Alimentos que Devem Ser Evitados ou Reduzidos:  

 a. Gorduras Saturadas e Trans  

. Fontes: Carnes gordurosas, manteiga, margarina, frituras, salgadinhos industrializados.  

. Riscos: Aumentam o LDL e os triglicerídeos.  

b. Açúcares e Carboidratos Refinados  

. Fontes: Doces, refrigerantes, pão branco, massas não integrais.  

. Riscos: Elevam os triglicerídeos e contribuem para o ganho de peso.  

c. Alimentos Ultraprocessados 

. Fontes: Salsichas, nuggets, biscoitos recheados, sopas instantâneas.  

. Riscos: Contêm aditivos e gorduras prejudiciais à saúde cardiovascular.  

Dicas Práticas para uma Alimentação Saudável  

a. Prefira Cozinhar em Casa: Evite alimentos industrializados e fast food.  

b. Leia os Rótulos: Fique atento à quantidade de gorduras saturadas, trans e açúcares.  

c. Faça Substituições Inteligentes:  

   . Troque o arroz branco pelo integral.  

   . Substitua o refrigerante por água ou chá sem açúcar.  

   . Use azeite no lugar de manteiga.  

d. Coma Peixe Pelo Menos 2 Vezes por Semana: Para garantir a ingestão de ômega-3.  

e. Inclua Fibras em Todas as Refeições: Elas ajudam a controlar o colesterol.  

2. Medicamentos:   

Em muitos casos, mudanças no estilo de vida não são suficientes para controlar os níveis de colesterol. Nesses momentos, os medicamentos entram como aliados essenciais para reduzir os riscos cardiovasculares. Cada classe de medicamento age de forma diferente, e a escolha depende do perfil do paciente.  

  • Estatinas:

As estatinas são medicamentos que inibem a produção de colesterol no fígado, reduzindo os níveis de LDL (colesterol ruim) e, em menor grau, aumentando o HDL (colesterol bom). Elas levam a uma redução de 20% a 50% nos níveis de LDL. Além disso, elas atuam na estabilização de placas de gordura, prevenindo o  rompimento de placas nas artérias, reduzindo assim o risco de infarto e AVC. Também ajudam a reduzir os triglicerídeos em 10% a 20%.

Dados científicos robustos mostram que a terapia com estatinas está associada a uma redução do risco de mortalidade por todas as causas em 24%, mortalidade cardiovascular em 31%, acidente vascular cerebral em 29% e infarto do miocárdio em 26% em adultos com risco aumentado de doença cardiovascular.

Esses benefícios são consistentes em diferentes perfis de paciente, incluindo populações sem hiperlipidemia marcante – ou seja, pacientes de alto risco cardiovascular, mesmo que não tenham um colesterol muito alterado, vão se beneficiar do uso da estatina, com redução da sua chance de morrer por alguma causa cardiovascular.

– As estatinas são indicadas para:  

a. Pacientes com LDL muito alto (especialmente quando maior que 190mg/dL).  

b. Pessoas com histórico de infarto, AVC ou doença arterial coronariana.  

c. Diabéticos com alto risco cardiovascular.  

d. Indivíduos com risco cardiovascular elevado calculado

– Quais são as estatinas:

Existem diferentes medicações que compõe a classe das estatinas, e  elas diferem em termos de potência e perfil de efeitos colaterais. As principais estatinas disponíveis incluem atorvastatina, rosuvastatina, simvastatina, pravastatina, lovastatina, fluvastatina e pitavastatina. A potência de redução do LDL varia entre elas, sendo a rosuvastatina e a atorvastatina as mais potentes. Pravastatina e lovastatina, ainda que menos potentes, estão associadas a menores riscos de efeitos adversos musculares. A escolha da estatina deve considerar a potência necessária para atingir as metas de LDL e o perfil de segurança do paciente.

– Quais são seus efeitos colaterais:

Os principais efeitos colaterais associados a estatina são dores musculares (5% a 10% dos pacientes) e aumento nas enzimas hepáticas – alteração dos exames de sangue relacionados ao fígado  (1% a 2%).  Ainda, é descrito um risco muito baixo de desenvolvimento de diabetes tipo 2 (em torno de 0,2% ao ano).  

A relação entre o uso de estatinas e a demência tem sido amplamente estudada, e a evidência atual sugere que as estatinas não causam demência. Pelo contrário, alguns estudos indicam que o uso de estatinas pode estar associado a uma redução no risco de demência, comprometimento cognitivo leve e doença de Alzheimer.

A dor muscular associada ao uso de estatinas geralmente se manifesta como mialgia. Esta é caracterizada por dores ou desconforto muscular, frequentemente simétrico e envolvendo músculos proximais, como os das coxas e ombros. A mialgia tende a surgir dentro de semanas a meses após o início do tratamento com estatinas e geralmente resolve após a descontinuação do medicamento. Na maior parte das vezes é um sintoma leve e bem tolerado. As formas graves dos sintomas musculares relacionados a estatina, chamadas miosite ou rabdomiolise, são muito raras – ocorrem com uma incidência de aproximadamente 1,6 por 100.000 pacientes-ano.

É importante ressaltar que o risco geral de eventos adversos não supera os benefícios na prevenção de eventos cardiovasculares.

Apesar dos extensos benefícios comprovados dessa classe de remédio, as estatinas foram muito demonizadas nas redes sociais. Com muita frequência, recebo pacientes em meu consultório que vem para questionar a necessidade do uso da medicação, após lerem informações infundadas na internet.

Vamos aproveitar e esclarecer mitos e verdades sobre o uso das estatinas, reafirmando alguns pontos importantes que falamos sobre elas:

As estatinas são alvo de críticas e desinformação nas redes sociais por vários motivos:  

– Desinformação Científica: Muitas publicações distorcem estudos ou citam pesquisas desatualizadas para criar alarmismo.  

– Medo de Efeitos Colaterais: Relatos isolados de efeitos colaterais são amplificados, gerando medo injustificado.  

– Promoção de “Tratamentos Naturais”: Alguns influenciadores promovem alternativas não comprovadas, como suplementos ou dietas milagrosas, para ganhar seguidores ou vender produtos.  

– Desconfiança na Medicina Tradicional: Há uma tendência crescente de questionar a medicina baseada em evidências, muitas vezes sem fundamento científico.  

A desinformação nas redes sociais não deve substituir o conhecimento científico e a orientação de um médico especialista. Se você tem dúvidas sobre o uso de estatinas, estou aqui para ajudar.

 

  • Ezetimiba:

Ezetimibe é um medicamento utilizado para reduzir os níveis de LDL. Ele atua reduzindo a absorção de colesterol pelo intestino.

É indicado principalmente como auxiliar às estatinas para controle da hipercolesterolemia.

A incidência dos efeitos colaterais associados ao uso de ezetimibe, tanto em monoterapia quanto em combinação com estatinas, incluem infecção do trato respiratório superior (4,3%), diarreia (4,1%), dores articulares (3,0%) e sinusite (2,8%).

Os resultados esperados do tratamento com ezetimibe incluem uma redução média de 18% no LDL quando usado como monoterapia e uma redução adicional de 25% quando combinado com terapia com estatinas.  Estudos clínicos de qualidade mostraram que no cenário de pacientes que já sofreram infarto previamente, o uso do ezetimiba em adição a estatina reduziu a chance de novo infarto, de AVC, de hospitalização por angina (dor no peito) e de morte por causa cardiovascular.

  • Inibidores de PCSK9:

Os inibidores da PCSK9 são uma classe de medicamentos que atuam principalmente na redução dos níveis de colesterol LDL no sangue, ao aumentar a captação desse colesterol pelo fógado. Exemplos de medicamentos dessa classe são o evolocumab e o alirocumab.

As principais indicações para o uso de inibidores de PCSK9 incluem o tratamento da hipercolesterolemia familiar heterozigótica – doença genética onde os pacientes apresentam nives de colesterol muito elevados, pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica que necessitam de redução adicional de LDL além do que é alcançado com estatinas e ezetimiba, e em casos de intolerância a estatinas.

Os efeitos colaterais mais comuns associados aos inibidores de PCSK9 são reações no local da injeção, que são geralmente leves.

Os resultados esperados com o uso de inibidores de PCSK9 incluem uma redução significativa nos níveis de LDL, tipicamente entre 40% a 60%, e uma diminuição no risco de eventos cardiovasculares. A evidência científica que suporta o uso de inibidores de PCSK9 é robusta, com múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstrando sua eficácia e segurança em diversas populações de pacientes.

No entanto, o custo elevado desses medicamentos limita sua utilização rotineira, sendo recomendada uma seleção cuidadosa dos pacientes para otimizar a relação custo-benefício. O preço da injeção para colesterol pode variar bastante, dependendo da marca e do local de compra. Em média, o custo mensal pode variar entre R$ 1.500 e R$ 3.000. Devemos avaliar caso a caso junto ao paciente, considerando suas possibilidades e considerando o potencial benefício da medicação.

  • Niacina: 

A niacina ou ácido nicotínico atua principalmente inibindo parcialmente a liberação de ácidos graxos livres do tecido adiposo (nosso tecido gorduroso), o que reduz a disponibilidade de substratos para que nosso fídago produza triglicérides, VLDL e LDL. Além disso, a niacina ajuda a remover o triglicérides do sangue. O resultado disso é o aumento de 15% a 35% no HDL, redução de 10% a 20% nos triglicerídeos e redução no LDL de 8 a 14%.  Estudos mostram redução de 10% no risco cardiovascular, mas seu uso é limitado pelos efeitos colaterais.  

O uso niacina no tratamento da dislipidemia é indicado principalmente como terapia adjuvante para a redução dos níveis elevados de triglicerídeos, especialmente em pacientes com risco de pancreatite devido a níveis muito altos de triglicerídeos.

A niacina é eficaz na redução do colesterol total e LDL em pacientes com hipercolesterolemia, quando a resposta a medidas não farmacológicas, como dieta e exercício, é inadequada. Ainda assim, a niacina não é a primeira escolha medicamentosa para tratar o LDL elevado – a estatina segue ocupando o primeiro lugar.

No entanto, o uso de niacina em combinação com estatinas não é recomendado em indivíduos que já estão sendo tratados agressivamente com estatinas, devido à ausência de benefícios adicionais no controle do LDL.  Além disso, há preocupações significativas de segurança associadas à terapia com niacina, incluindo o risco aumentado de miopatia (doenças musculares), especialmente quando usada em combinação com estatinas.

Além disso, a niacina pode ser considerada para pacientes com elevações de lipoproteína A [Lp(a)], uma vez que a niacina diminui os níveis de Lp(a), embora os benefícios preventivos dessa redução não tenham sido completamente estudados.

Os efeitos colaterais envolvem Rubor facial (30% dos pacientes), coceira (10%),  problemas gastrointestinais (10%) e risco de aumento da glicemia (1% a 2%).  

  • Inclisiran:

Inclisiran é um medicamento inovador utilizado como adjuvante à dieta e à terapia com estatinas para o tratamento de adultos com hipercolesterolemia primária, incluindo a hipercolesterolemia familiar heterozigótica (HeFH), com o objetivo de reduzir os níveis de LDL. Ele atua de forma a aumentar os receptores de LDL nas células do fígado, aumentando sua captação hepática e reduzindo os níveis circulantes.

Inclisiran demonstrou reduzir os níveis de LDL em aproximadamente 50% em comparação com o placebo, com reduções sustentadas ao longo do tempo – Ou seja, uma redução muito importante no LDL. Além disso, uma meta-análise indicou uma associação com uma redução de 24% nos eventos cardiovasculares adversos maiores. É uma medicação que foi aprovada como adjuvante à terapia com estatinas, naqueles pacientes que não atingem as metas desejadas com estatinas e outras terapias .

As reações adversas mais comuns são reações no local da injeção, que são geralmente leves e não persistentes. A segurança geral do inclisiran é comparável ao placebo, sem diferenças significativas em testes de função hepática, níveis de creatina quinase ou contagens de plaquetas.

Sua posologia é cômoda: é administrado por injeção subcutânea, com uma dose inicial de 284 mg, seguida por uma dose após 3 meses e, posteriormente, a cada 6 meses.

A principal limitação ao seu uso é o custo: o valor gira em torno de 5000,00 a 8000,00 reais a cada dose semestral.

Em resumo, inclisiran é uma opção terapêutica eficaz e segura para pacientes que necessitam de reduções adicionais de LDL. No entanto, o custo e a falta de evidência robusta sobre a redução de eventos cardiovasculares a longo prazo devem ser considerados na decisão de tratamento.

  • Coenzima Q10

A coenzima Q10 (CoQ10) tem sido estudada por seus potenciais benefícios em várias condições de saúde, principalmente devido às suas propriedades antioxidantes. Alguns estudos mostram suplementação de CoQ10 pode melhorar a capacidade funcional e reduzir eventos cardiovasculares adversos em pacientes com insuficiência cardíaca, além de ter efeitos positivos em marcadores inflamatórios em doenças isquêmicas do coração, melhorar a fadiga em pacientes com câncer e melhorar os exames de perfil lipídico nos pacientes com dislipidemia. 

No entanto, os resultados não são uniformemente positivos. Ou seja, enquanto a CoQ10 mostra potencial em algumas áreas, as evidências são mistas e muitas vezes limitadas por estudos de pequeno porte ou de qualidade variável. Mais pesquisas são necessárias para confirmar sua eficácia e segurança em diferentes populações e condições clínicas. Dessa forma, é uma medicação em estudo, e não existe ainda uma indicação formal do seu uso na nossa prática clínica.

Como tratar a dislipidemia na gravidez?

O manejo da dislipidemia em mulheres grávidas é desafiador devido às preocupações com a segurança fetal. As diretrizes atuais geralmente recomendam a interrupção da terapia com estatinas durante a gravidez, devido a preocupações teóricas sobre teratogenicidade (capacidade de causar anomalias no desenvolvimento do feto), embora estudos observacionais recentes não tenham demonstrado evidências claras de danos ao feto.  Porém, em casos de risco muito alto, como em mulheres com hipercolesterolemia familiar ou doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida, pode-se considerar a continuação da terapia com estatinas após uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios.

Os sequestrantes de ácidos biliares, como colestiramina e colesevelam, são geralmente considerados seguros durante a gravidez (categoria B) e podem ser usados, mas é importante monitorar a deficiência de vitamina K.

Para mulheres grávidas com hipertrigliceridemia severa, especialmente aquelas com risco de pancreatite, o uso de ácidos graxos ômega-3 prescritos e, possivelmente, gemfibrozil no terceiro trimestre, pode ser considerado, embora deva ser feito com cautela e apenas se o benefício potencial justificar o risco.

O uso de outros agentes, como inibidores de PCSK9 e ezetimiba, não foi bem estudado durante a gravidez e, portanto, não é recomendado. 

Em todos os casos, modificações intensivas no estilo de vida, incluindo dieta e exercício, são fortemente recomendadas para o manejo da dislipidemia durante a gravidez.

 Dislipidemias Genéticas 

 As dislipidemias genéticas são distúrbios hereditários (transmitidos de pais para filhos) que afetam o metabolismo das gorduras no sangue, levando a níveis elevados de colesterol e/ou triglicerídeos. Elas são causadas por mutações em genes que regulam a produção, transporte ou eliminação das lipoproteínas.  

Principais Tipos de Dislipidemias Genéticas  

1. Hipercolesterolemia Familiar:  

  • Causa: Mutação no gene do receptor de LDL, que reduz a capacidade do fígado de remover o colesterol ruim (LDL) do sangue.  
  • Características:

–  LDL muito elevado (acima de 190 mg/dL em adultos ou 160 mg/dL em crianças).  

.- História familiar de doença cardiovascular precoce (infarto ou AVC antes dos 55 anos em homens ou 65 anos em mulheres).  

–  Xantomas (depósitos de gordura na pele ou tendões) ou arco corneal (anel branco ao redor da íris).  

  • Tratamento:

 – Adultos:  Estatinas são a primeira linha de tratamento.   Se o LDL permanecer alto, podem ser adicionados ezetimiba ou inibidores de PCSK9.  

– Crianças: Estatinas podem ser iniciadas a partir dos 8 a 10 anos, dependendo do nível de LDL e do risco cardiovascular.  

2. Hipertrigliceridemia Familiar  

  • Causa:  Mutação em genes que regulam o metabolismo dos triglicerídeos.  
  • Características:

  – Triglicerídeos muito elevados (acima de 500 mg/dL).  

  – Risco aumentado de pancreatite aguda.  

  – Pode estar associada a baixos níveis de HDL.  

  • Tratamento:

– Dieta pobre em gorduras e açúcares.  

– Fibratos ou ômega-3 para reduzir os triglicerídeos.  

– Evitar álcool e medicamentos que aumentem os triglicerídeos (como corticoides).  

3. Disbetalipoproteinemia Familiar

  • Causa: Mutação no gene da apolipoproteína E, que afeta o metabolismo das lipoproteínas ricas em triglicerídeos.  
  • Características:

–  Colesterol total e triglicerídeos elevados.  

 –  Xantomas planos (depósitos de gordura na pele).  

  • Tratamento:

   – Estatinas e fibratos são os tratamentos de escolha.  

  – Dieta com baixo teor de gordura e carboidratos refinados.  

 4. Hipercolesterolemia Poligênica  

  • Causa: Combinação de múltiplas variantes genéticas de pequeno efeito, associadas a fatores ambientais.
  • Características:  

 – LDL moderadamente elevado.  

 – História familiar de doença cardiovascular.  

Quando e como Investigar Dislipidemias Genéticas?  

 A investigação das dislipidemias genéticas envolve uma combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e testes genéticos. Inicialmente, a avaliação clínica inclui a obtenção de um histórico detalhado, incluindo a idade de início da doença cardiovascular aterosclerótica no paciente e em familiares, além de sinais físicos como xantomas eruptivos e tendinosos. A análise laboratorial inicial geralmente inclui um perfil lipídico em jejum para avaliar os níveis de colesterol e triglicérides, que são fundamentais para a identificação de distúrbios lipídicos familiares. Para uma caracterização mais detalhada, pode ser necessário medir apolipoproteínas.

As alterações que indicam a pesquisa de doença genética incluem:  

  • LDL acima de 190 mg/dL em adultos , sem causa secundária (como dieta inadequada ou hipotireoidismo).  
  • LDL acima de 160 mg/dL em crianças e adolescentes.
  • Triglicerídeos superiores a 1000 mg/dL, quando causas secundárias foram excluídas.
  • História familiar de hipercolesterolemia familiar já diagnosticada.
  • História familiar de doença cardiovascular precoce.  
  • Presença de xantomas ou arco corneal (anel branco ao redor da íris).  
  • Histórico de pancreatite aguda recorrente.

A partir daí, podem ser solicitados testes para identificar variantes genéticas responsáveis pela doença. O sequenciamento de nova geração é uma técnica comum que permite a análise simultânea de múltiplos genes associados a dislipidemias, aumentando a eficiência e reduzindo custos. Para dislipidemias severas, a etiologia monogênica é mais provável, embora muitas vezes não se encontre uma causa de gene único. 

A integração dos resultados genéticos na prática clínica pode apoiar a tomada de decisões clínicas e facilitar a triagem familiar. A identificação de variantes genéticas pode não apenas confirmar o diagnóstico, mas também orientar estratégias terapêuticas  e promover a adesão ao tratamento, promovendo uma abordagem mais personalizada e preventiva.

Uma vez diagnosticada uma dislipidemia genética, o tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível para reduzir o risco de complicações cardiovasculares.  

 Conclusão: Diagnóstico Precoce Salva Vidas  

 Podemos finalmente entender que a dislipidemia é uma condição de saúde silenciosa e grave. Mas a boa notícia é que, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, você pode reverter esse quadro.

Cada paciente é único, e o tratamento da dislipidemia deve ser personalizado. Se você tem dúvidas ou precisa de ajuda, estou aqui para cuidar de você. 

 

Saiba mais:

https://www.escardio.org/Guidelines/Clinical-Practice-Guidelines/Dyslipidaemias-Management-of

Leia também:

https://dramairaibrahim.com.br/quando-procurar-um-cardiologista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *